Centro de Educação Montessori de São Paulo
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Normalização III: sinalização e mapa

23/4/2013

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Montessori considerava o processo de normalização o objetivo maior de todo o processo desenvolvido em suas escolas. A tal ponto que chegava a chamar as instituições que seguiam seu método de "escolas normalizadoras", de forma que é bastante razoável que nos perguntemos, sendo este o principal objetivo do método, o que nós, como professores, podemos fazer para atingí-lo. E  a resposta nos vem em três partes: o adulto, o ambiente e a criança. É em três partes então que abordaremos o tema. O faremos de forma extremamente sucinta, porque a resposta real e completa para "como auxiliar a criança a atingir a normalização?" seria "utilizando o método Montessori". E como bom sabemos, todo o método não caberia em um só artigo de blog, por mais bem intencionados que sejamos.

O Adulto
De todas as coisas sobre as quais temos poder no entorno da criança, talvez nós mesmos sejamos ao mesmo tempo o ítem sobre o qual tenhamos mais influência e também aquele cuja modificação nos tome mais tempo e esforço. É mais fácil modificar toda uma sala e transformá-la no ambiente físico ideal, com os melhores materiais e a mobília perfeita, do que transformar um só adulto no professor ideal para as crianças - e no entanto este adulto está dentro de nós mesmos, e finceiramente não nos custaria tanto quanto uma só estante de materiais da sala.
Se o método de Montessori é, como ela disse ser, um de "observação, prudência e paciência", então devemos nos basear nestes pilares para moldar nossas ações, tendo em vista que nosso objetivo conosco é o já anunciado por nossa professora maior: "A preparação que nosso método exige do professor é o auto-exame, a renúncia à tirania. Deve expelir do coração a ira e o orgulho, deve saber humilhar-se e revestir-se de caridade".
O auto-exame, a renúncia à tirania, o expelir ira e orgulho e o humilhar-se e revestir-se de caridade não são palavras vazias, nem palavras santas e inatingíveis por meros professores. São os capítulos de um manual de instruções, como é tudo em Montessori. Devemos permanecer atentos à criança, e para isso precisamos abrir mão do ponto de vista do observador e adotar o mais possível a perspectiva da observada. É necessário que percebamos a imensa função da criança na sociedade, que notemos suas principais dificuldades e que concluamos então que a melhor maneira de ajudar é por meio da adaptação de nós mesmos e do ambiente. Que não podemos influenciar a criança diretamente, mas que devemos auxiliá-la indiretamente em sua caminhada. Isto feito, teremos chegado ao professor planejado por Montessori.

O Ambiente e o Material
De todas as características delineadas por Maria Montessori para seu método, o ambiente talvez seja a mais óbvia. Quando chegamos a uma sala montessoriana, isto é evidente por itens de mobília e de material didático. No início, no entanto, "não havia método para ver, havia a criança", e foi ela que indicou o caminho a tomar. Assim, nossa atenção não deve se voltar totalmente para o ambiente ideal, mas para o ambiente que se mostra ideal para e com as crianças que temos na escola.
Alguns princípios gerais do ambiente montessoriano, no entanto, costumam se manter: a mobília é sempre adaptada aos pequenos, sempre baixinha, leve e fácil de mover. A sala é decorada com discrição e um certo grau de minimalismo, com poucos elementos a disputar a atenção das crianças. Os materiais, assim como as plantas e outros objetos, são extremamente bem organizados, e devem ser mantidos assim ao longo do ano escolar, pelo professor e pelas crianças. E finalmente, é tudo muito limpo e bem iluminado, com janelas amplas para entrada de ar e de luz.
Os materiais por sua vez, seguem três princípios maiores: primeiro, servem à manipulação do aluno, o que quer dizer que é a criança que os utiliza para trabalhar, e não o adulto. Por isso, nós os apresentamos e saímos de perto, permitindo inclusive que a atividade ocorra com erros, e prevenindo somente a má utilização, ou a utilização nociva do material. Em segundo lugar, eles são materiais simples, com o que chamamos de isolamento da dificuldade. Se temos como objetivo com um material determinado, auxiliar no desenvolvimento da visão por meio da apresentação das cores, então iremos apresentar um material que trabalha somente cores, e não tamanhos, pesos ou texturas. Uma dificuldade de cada vez. Por fim, os materiais devem conter em si o controle do erro, de forma que eles mesmos corrijam a criança e ela não consiga terminar a atividade se errar em algum ponto. O adulto não pode controlar este erro, e por isso há tão pouca correção em salas montessorianas - esta é uma relação que se estabelece entre o material e a criança.

A Criança
A criança é o único elemento do ambiente montessoriano sobre o qual não temos nenhum controle. A única maneira de controlá-la é por meio da tirania, e a esta nós não podemos recorrer. Assim, é necessário que busquemos, não controlar a criança, mas auxiliá-la a controlar-se. Nosso papel é ajudar a vida a se desenvolver da melhor forma possível. Se prepararmos bem o ambiente e o professor, isto acontecerá, aos poucos, com todas as crianças. Precisaremos intervir em conflitos e prevenir comportamentos cujas consequências possam ser desastrosas para a criança e seus colegas, no entanto, o desenvolvimento em si se dará de forma espontânea, e começará quando a criança se encantar pela primeira vez com o uso de um material.
A criança que está em vias de readquirir seu equilíbrio natural apresenta algumas características e comportamentos em relação ao seu ambiente, aos colegas e ao professor. Estas são apresentadas no livro "A Criança" e citadas abaixo, como forma de finalização de nosso artigo sobre o mapa e a sinalização do processo de normalização.

"Do que a criança gosta:
- Repetição de exercícios
- Livre escolha
- Controle do erro
- Análise do movimento
- Exercícios de silêncio
- Boas maneiras sociais
- Ordem no ambiente
- Cuidado com higiene pessoal
- Treino dos sentidos
- Escrita separada da leitura
- Escrita antes da leitura
- Ler sem livros
- Disciplina em atividade livre.

O que a criança rejeita:
- Prêmios e castigos
- Livros de exercícios para escrita
- Lições em grupo o tempo todo
- Programas e provas
- Brinquedos e doces
- Uma mesa do professor"

Nesta lista podemos encontrar, em verdade, um manual resumido do próprio método de Montessori, e no entanto precisamos lembrar: isto teria de acontecer, já que o método foi estabelecido segundo aquilo que as crianças mostraram quando chegaram ao seu estado natural, que é um de equilíbrio. Necessariamente as características do método seriam aquelas apreciadas pela criança que já atingiu seu objetivo maior. "A primeira coisa a fazer, então, é descobrir a verdadeira natureza da criança e então auxiliá-la em seu desenvolvimento natural" (Montessori, A Criança, p.136).
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Normalização II - Histórias de Equilíbrio

13/4/2013

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Há um semestre, mais ou menos, foi publicado no Lar Montessori um artigo descrevendo as principais características da criança normalizada. Essas características são as apontadas por E.M. Standing em seu "Maria Montessori: Her Life and Work". Como naquele artigo o tema foi analisado com bastante cuidado, aqui faremos algo diferente e bastante ilustrativo. Contaremos algumas histórias que ilustram o comportamento da criança que já readquiriu seu equilíbrio natural.

Não vamos contar uma historinha para cada item, porque seriam anedotas demais. Uniremos alguns grupos de itens representados por cada episódio e vamos relembrar narrativas de Maria Montessori e de várias outras fontes, inclusive um ou dois registros de observações que fiz em salas montessorianas.


1 - Amor à Ordem

Trabalhando com a aplicação do método Montessori em casa, tenho a chance de testemunhar transformações que afetam a família inteira, além das crianças. Cada vez que uma família opta por reorganizar um quarto e torná-lo montessoriano, muita coisa acontece. As crianças se tornam mais independentes e autônomas, exatamente como esperamos, mas tornam-se também muito mais exigentes. Se antes da transformação do quarto já gostavam de tudo no seu devido lugar e se mostravam confusas quando havia mudanças na decoração, agora esta característica se intensifica imensamente.

Contam-nos que quando o quarto é remobiliado para as crianças, e sua cama vai para o chão, junto com seus brinquedos, que ficam em estantes mais baixas e suas roupas, que são guardadas nas últimas gavetas, rentes ao solo, as crianças começam a compreender como tudo tem de ficar. Quando os adultos resolvem mudar tudo de lugar, pequenos escândalos acontecem, e algumas mães chegam a contar de noites de insônia, até que a mobília fosse toda recolocada onde “deveria” estar e os brinquedos fossem guardados em suas caixas e prateleiras.

Embora estas transformações sejam em casas e não em escolas, o mesmo acontece no ambiente preparado em escolas montessorianas, onde as crianças aprendem, como em casa, onde tudo deve ficar e onde guardar cada um dos materiais que terminam de utilizar, auxiliando, inclusive, os colegas mais novos, que ainda não aprenderam todo o mapa da sala.
 

2. Independência e Iniciativa / Poder de Agir por Escolha

Era uma vez uma sala montessoriana onde tudo funcionava. Nesta sala, havia duas garotinhas sobre as quais trata esta história. Uma delas tinha três anos, e estava executando uma atividade com a professora, e a outra tinha seis anos e estava trabalhando sozinha.

A menor, com a professora, trabalhava matemática. A professora lhe falava um número, que estava em um pequeno papel. A pequena colocava sobre o tapete o número correspondente de pecinhas de plástico. Depois, as contava e, então, a professora lhe mostrava o cartão que tinha nas mãos. Todas as vezes a menina se surpreendia por ter “adivinhado” o número do cartão. Em uma das vezes, quando adivinhou o número seis (um número alto!) ficou tão admirada que caiu para trás. Bateu a cabeça no chão.

Claro, a pequena chorou, era esperado. O que ninguém esperava era a reação da maior, que interrompeu seu trabalho, foi até a geladeira da sala de aula, subiu em uma escadinha e pegou, no congelador, um saco de gelo em gel, para a cabeça da amiga. Não bastasse, levou até a colega que chorava, colocou o gelo em sua nuca e começou a conversar com ela: “O que você estava fazendo quando caiu?”, “Machucou muito?”, “Já está melhorando?”. A professora, diante desta obra de arte da infância, dignou-se a admirar e, depois, colocou o gelo de volta no congelador, quando o susto e a dor passaram. Impossível esperar mais independência e iniciativa, mais poder de agir por escolha, do que os demonstrados por esta amiga tão hábil em ajudar, não é?

 
3. Amor ao Silêncio e ao Trabalho Solitário

Esta talvez seja a anedota mais famosa de toda a obra de Maria Montessori: a menina com os cilindros de madeira. Conta Montessori que em seus primeiros tempos como educadora, uma menina sentou-se a uma mesinha, com o material de cilindros para encaixar. Retirou-os todos, e os encaixou com dificuldade. Repetiu o exercício com mais sossego, e para garantir, o fez ainda uma vez. Então, olhou para o material, retirou todos os cilindros e refez o que havia feito até então, cada vez melhor, até o momento em que atingiu o grau máximo de performance, mas então, para seu deleite, decidiu continuar a repetir a atividade.

Montessori, atônita, tentou atrapalhar a garota como pode. Dedicou vários minutos a tentar acabar com a concentração da pequena: fez com que as crianças todas cantassem e caminhassem pela sala, por exemplo. E nossa protagonista nem levantou os olhos do que fazia.

Absolutamente inconformada, Montessori decidiu que daria um jeito de distrair a garota. Levantou a cadeira e a mesa da menina, com a criança em cima, e transportou tudo para a outra extremidade da sala. Somente para ter dois trabalhos: o de transportá-la e o de mostrar-se ainda mais incrédula, quando percebeu que a criança sequer mexera a cabeça. Continuava, concentrada e tranquila, a desenvolver sua atividade.

Montessori, incrédula como já se disse, mas sempre observadora, contou: a criança repetiu a atividade, em absoluto e ininterrupto silêncio, quarenta vezes.


4. Concentração e Autodisciplina espontâneas

Na mesma linha da garotinha que repetiu um exercício quarenta vezes, está o menino que montou a Torre Rosa em uma hora. Eu o estava observando em uma sala de aula, enquanto pegava todos os cubos da torre e os colocava espalhados em seu tapete.

Depois, durante a montagem, utilizou-se das mais diversas técnicas. Como a torre deveria ser montada sobre uma plataforma um pouco mais alta que o chão, o primeiro teste do garoto era ver se o cubo entrava ou não debaixo da plataforma. Os que entravam iam para um lado, e os que não entravam iam para outro.

Terminada a primeira separação, começou a colocar um cubo ao lado do outro, e deitar a cabeça no chão, no nível dos cubos, para ver com clareza qual era maior. Empilhava, acertava, voltava ao chão, sério, e continuava as comparações. Assim fez até o menor dos cubos. Quando colocou a peça de um centímetro cúbico no topo da torre, ficou de pé, afastou-se, olhou para ela e sorriu.


5. Apreensão da Realidade

Uma mãe com quem converso conta: Estavam ela e a filha em um supermercado destes que vendem tudo, e caminhavam pela divisão de papelaria, na época de compra de material escolar. Olhavam canetinhas, enquanto uma outra mãe com sua filha olhavam cadernos.

A criança da outra família pega um caderno com carros desenhados na capa e diz à mãe que aquela é sua escolha, olhando para a capa. A mãe, olhando para o caderno, diz à filha que aquele caderno não lhe é propriado e a criança não entende. A mãe explica: esse caderno é de menino.

A menina que nós acompanhamos, então, vira-se para sua mãe e expressa com clareza: mas mãe, aquele caderno não é de menino. É de carro.

Nossos preconceitos impõem à realidade a ideia de o que é “de menino” e o que é “de menina”. Mas crianças educadas de acordo com um método que respeite sua natureza sabem que esta não é a realidade. A realidade é que o caderno não é de menino. É de carro.


6. Obediência / Sublimação do Instinto de Possessividade

Dessa vez a professora havia organizado os alunos para que repusessem a comida da sala a cada vez que acabasse.  Mas naquele dia não havia dito nada. Isto não impediu um belo acontecimento de ocorrer.

Um aluno de cerca de seis anos ia comer seu lanche. Pegou um prato no qual colocou sua fatia de pão e foi servir-se de frios. Quando chegou à primeira bandeja, de peito de peru, reparou que havia somente duas fatias restantes. Depositou seu prato na mesa, foi até a geladeira, abriu, pegou uma bandejinha de fatias de peito de peru, com um garfo retirou algumas e as colocou à disposição dos colegas, na mesa do lanche.

Então, devolveu a bandejinha para a geladeira e foi terminar de se servir. Chegando novamente ao peito de peru, pegou somente uma fatia e foi sentar-se. E sobre esta história desejamos fazer uma brevíssima análise.

Quando o menino chegou  às fatias de peito de peru, havia o suficiente para si, e poderia servir-se. Mas, pensei eu, talvez ele não quisesse deixar a bandeja vazia. No entanto, ela não se esvaziaria, de qualquer forma, já que a criança ia pegar somente uma das fatias disponíveis. Assim, encher o recipiente com uma quantidade maior de fatias foi puro amor aos colegas e ausência de egoismo. Esta história tem-me servido bem quando preciso explicar que Montessori não é um método que incentive o individualismo, mas sim um método que incentiva cada indivíduo a dar o melhor de si para todos.


7. Alegria

Escolas montessorianas são semelhantes no mundo todo. Por isso, podemos fazer comparações incríveis sobre o desenvolvimento de crianças de países, e mesmo continentes, diferentes. Outra vantagem desta semelhança é que crianças podem emigrar e imigrar e continuar com a mesma abordagem educacional, cultivando a mesma alegria de aprender.

Um pequeno mexicano acabava de chegar ao Brasil, e já havia passado por duas ou três escolas, sem adaptar-se completamente, quando seus pais ficaram sabendo de uma escola montessoriana em São Paulo. Apesar de a escola ficar realmente longe de onde estavam morando, resolveram tantar levar seu filho em uma visita, para ver se funcionava. A criança tinha quatro anos.

Chegando à escola, o menino foi levado, com a mãe e uma diretora, até a sala onde estavam os companheiros de mesma idade. Chegando lá, não teve tempo de conversar com a professora ou de conhecer amigos. Ficou extasiado diante de um só material, dizendo, ainda à porta, admirado: “La Torre Rosa!”. Nunca soube de outra linha pedagógica que proporcionasse tanta alegria a uma criança!


Pequenas histórias nos ajudam a compreender os fenômenos que se dão em salas montessorianas, e que se mostram inacreditáveis quando anunciados sem os exemplos de episódios reais. A leitura da versão completa sobre as características da normalização, no entanto, ainda é de grande ajuda, e pode ser feita no livro que citamos: "Maria Montessori: Her Life and Work", de E.M. Standing, e que custa menos de doze dólares na Amazon.

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Normalização I - Conceito e Significado

6/4/2013

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Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, "normalizar" significa fazer voltar ou voltar ao estado normal, à ordem, regularizar(-se).

Esta definição é especialmente interessante para nós, porque nos auxilia na compreensão do processo de normalização, considerado como o mais importante de toda a educação montessoriana. Sabemos que Maria Montessori passou a vida a observar as crianças e notou entre elas algumas semelhanças que nos surpreendem sempre. Descobriu, por exemplo, que ao contrário do que diz o senso comum, a criança não gosta de bagunça e excesso de ruído, mas que prefere ambientes organizados e silenciosos, ou com sons de fundo suaves e agradáveis. Características como essas, segundo Montessori e Standing, principalmente, mas também segundo Lillard e outros autores, são comuns a todas as crianças. Podemos considerá-las, então, universais da infância.

Segundo Montessori e Standing, características como o amor à ordem, o amor ao silêncio e o amor ao trabalho seriam naturais à criança. Para frutificarem com maior beleza e expansão, a criança deveria poder estar em um ambiente preparado para ela, no qual pudesse desenvolver sua autonomia e independência, ser respeitada pelo adulto e ter possibilidades plenas de desenvolvimento e aprendizado. Um modelo deste ambiente é a sala montessoriana: tem tudo adaptado à altura da criança, com um desenho belo e uma disposição agradável ao movimento e aos olhos. A mobília é leve e os materiais são bonitos, bem construídos e pensados ao longo de anos para o desenvolvimento ideal dos sentidos dos pequenos.

Assim, em uma sala montessoriana as tendências naturais da criança podem aflorar sem impedimentos e contar com a compreensão de adultos preparados, um ambiente adequado e colegas com virtudes semelhantes. Acontece, no entanto, que nem toda criança nasce em um ambiente Montessori. Em sua maioria, devido a uma falta de conhecimento sobre o desenvolvimento da infância, as crianças ainda nascem em ambientes compostos por mobília, materiais, brinquedos e pessoas que não as compreendem. Em casa é tudo alto, e as crianças dependem dos pais até para suas necessidades biológicas mais básicas. Na rua, tudo é proibido. A criança, via de regra, desenvolve-se apesar do adulto, e não com a ajuda dele.

Assim, quando chegam em nossas salas de aula, preparadas para as crianças e planejadas para seu melhor desenvolvimento, elas nos chegam sem apresentar quase nenhuma das características apontadas por Montessori como sendo naturais. Nosso trabalho, então, é auxiliar esta criança a normalizar-se.

O processo de normalização é uma caminhada de retorno ao equilíbrio natural da criança. Poderíamos chamar a criança normalizada de criança equilibrada. É um indivíduo que encontrou aquilo que lhe é inato e que havia perdido por ter sido submetido por meses ou anos a uma criação e educação que lhe reprimiram estas características.

Entre as várias abordagens da normalidade, a mais comum é a referência à Curva de Gauss. Em compreensão e linguagem leigas, trata-se de um gráfico estatístico segundo o qual há uma quantidade considerável de pessoas que se enquadram em uma média - e a essas pessoas podemos chamar "normais", por estarem dentro da norma esperada. As outras pessoas, às marges do gráfico, estariam fora da normalidade, para mais ou para menos.

Se tivéssemos uma boa curva de Gauus para o processo de normalização, veríamos uma considerável maioria das crianças cujo desenvolvimento não foi prejudicado por qualquer desvio neuronal ou químico dentro do que consideraríamos normalidade, se estivessem em uma sala montessoriana há um período razoável. Acontece, porém, que o que se dá em nossos ambientes é ainda mais radical: a quase totalidade das crianças passa pelo processo de normalização e vem a se comportar como descrito por professores montessorianos em vários locais do globo durante todo o último século.

Para a compreensão deste fenômeno, insistimos: quem normaliza-se é a criança. O adulto não a normaliza. Ele somente prepara um ambiente para que o processo possa acontecer. O trabalho realizado é todo do indivíduo em desenvolvimento.

Algo, nesta incrível transformação das crianças, deve ser considerado por nós. Se toda a infância, em todos os lugares, em diferentes períodos históricos, apresenta comportamentos semelhantes se é deixada em liberdade para o desenvolvimento de sua autonomia e independência em um ambiente preparado, então temos um processo que precisa ser compreendido em sua completude: trata-se do retorno da criança ao que lhe é inato e natural - ao que lhe é, portanto, normal.

"Normal", segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, quer dizer: o que é usual, comum, natural. E em qualquer ambiente preparado, com adultos preparados, onde haja total respeito pela infância, é usual, comum e natural que a criança se desenvolva da melhor forma possível.

Os próximos três artigos desta série serão publicados em breve e servirão ao estudo daqueles que desejarem compreender em detalhes e por várias perspectivas o processo de normalização dentro do método Montessori.
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Oportunidades e Desafios na Formação Montessori

3/4/2013

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Por Paige Geiger, Coordenadora dos cursos do Centro de Esucação Montessori de São Paulo

Gabriel escreveu um post ponderado sobre os motivos de se fazer um curso de treinamento Montessori. Me ocorreu em quantos níveis podemos considerar esta escolha. Quando eu entrevisto professores e estudantes universitários, profissionais interessados ​​e o pessoal de serviços especiais, eu pergunto: “Por que estudar métodos montessorianos?” As respostas dos alunos me desafiam a pensar sobre como essa experiência e o significativo compromisso de trabalho presente neste curso irá contribuir para os diversos trabalhos que estão acontecendo com e em nome das crianças no Brasil.

O objetivo deste programa de treinamento é alcançar professores e profissionais onde estejam hoje e mudar e aperfeiçoar uma nova visão sobre como as crianças aprendem. Cursos educacionais proliferam, mas não é comum encontrar uma metodologia e filosofia tão completa, profunda e eficiente quanto a proposta de Montessori.

Nós do CEMSP percebemos que nem todos os estudantes de Montessori terão o privilégio de trabalhar em um ambiente Montessori autêntico no Brasil, pelo menos por enquanto. Mas, o nosso objetivo é mudar a educação, oferecendo alternativas ao status quo e influenciando todo o ensino com a pedagogia montessoriana, adequada ao desenvolvimento infantil, como já foi pesquisado e comprovado na prática. Com nosso progresso, nós esperamos ver maiores oportunidades para a prática montessoriana em salas de aula Montessori vindas dos nossos alunos.

É emocionante ver que alguns profissionais do método Montessori já seguiram em frente para implementar a pedagogia Montessori em programas do setor público. Este é o objetivo do nosso trabalho: realmente influenciar tantas mentes e espíritos jovens quanto possível com os ensinamentos ricos de uma pedagogia científica singular.

Um exemplo de possibilidades para a aplicação de Montessori é Camaquã (RS), onde há um programa público para a infância com a formação continuada de professores e um grupo de mentores comprometidos com este desafio. Veja o site: http://www.camaqua.rs.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=236588

Outro bom exemplo de nosso trabalho é Nieke Coppelmans-Eussen, uma instrutora para CEMSP, que oferece orientação e ensino em algumas comunidades carentes de Campinas. Com materiais feitos à mão e sessões realizadas aos sábados, Nieke tem sido capaz de influenciar a vida de centenas de crianças.

Solicitamos aos nossos leitores nos informar de mais programas no setor público e atualizar a informação daqueles já mencionados aqui.

Estamos ansiosos para começar uma nova rodada de cursos. Comecamos olhando para nossa prática e nossas crenças, para estarmos abertos, para visualizarmos as crianças e fazermos a diferença para cada uma delas. Qual você imagina ser a sua contribuição?
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“De tal responsabilidade nasce o dever de estudar e penetrar, com profundidade ciêntifica, as necessidades psíquicas da criança, preparando-lhe o ambiente necessário à vida.” (Maria Montessori)
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    Autores

    Gabriel M Salomão foi aluno de uma escola montessoriana por doze anos. Hoje, realiza seu doutorado sobre o Método Montessori e difunde o método para escolas e famílias. Escreve sobre educação montessoriana aqui e no Lar Montessori.

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