Em um primeiro artigo (de 2012), Lillard propõe quatro características como determinantes de um programa de aplicação de Montessori com alta fidelidade:
- Períodos de três horas de trabalho;
- Agrupamentos de três idades;
- Um profissional formado em Montessori por sala;
- Um conjunto específico de materiais montessorianos.
Quanto às adaptações que determinam a fidelidade mais baixa à proposta original de Montessori, Lillard propõe cinco itens:
- Materiais e brinquedos suplementares em sala;
- Períodos de trabalho mais curtos;
- Aulas especiais (extracurriculares) e professores adicionais para elas;
- Notas;
- Lição de casa.
A autora nos explica que diversos estudos, com resultados diferentes, já foram feitos envolvendo Montessori. Alguns com bons resultados para nós, outros nem tanto. Longamente, expõe os estudos com bons e maus resultados, e nota que todos aqueles com bons resultados foram feitos em escolas que seguiam os primeiros quatro determinantes de alta fidelidade, enquanto que os resultados menos positivos foram encontrados com escolas que utilizavam pelo menos um dos determinantes de baixa fidelidade.
Em seguida, expõe seu estudo atual: uma comparação do desempenho de crianças em dois grupos de escolas montessorianas.
No primeiro grupo, utilizava-se somente o material montessoriano, havia um ciclo de trabalho de três horas todos os dias, e um adulto na sala era claramente o professor, responsável pela maior parte das interações com as crianças, enquanto o outro adulto cumpria muito mais frequentemente o papel de observador.
No segundo grupo, utilizava-se material e brinquedo suplementar (como Lego, quabra-cabeças, livros de exercícios, projetos de artesanato e jogos da memória), o ciclo de trabalho era quebrado algumas vezes por semana por aulas extracurriculares, e um segundo adulto interagia com as crianças com tanta frequência quanto o primeiro.
O estudo também propõe uma comparação com escolas tradicionais de alta qualidade (a descrição das escolas tradicionais pode ser lida no artigo original).
Algumas variáveis entre as escolas foram testadas e não se encontrou diferenças significativas de desempenho entre os alunos. Essas variáveis foram desde anos de experiência dos professores até o tipo de certificação (AMI/AMS) dos professores montessorianos. Outras variáveis foram consideradas importantes, como escolarização das famílias, por exemplo. Tudo levado em conta, os resultados foram:
Identificação Letra-Palavra: Os alunos das escolas de maior fidelidade a Montessori avançaram 11,28 pontos ao longo de um ano. Os das escolas de menor fidelidade, 5,61 pontos. Os das escolas tradicionais, 5,90 pontos. A diferença significativa é entre as escolas Montessori de maior fidelidade e ambos os outros programas.
Vocabulário com Figuras: Os alunos das escolas de maior fidelidade a Montessori avançaram 2,92 pontos ao longo de um ano. Os das escolas de menor fidelidade, 0,95 pontos. Os das escolas tradicionais, 1,08 pontos. A diferença significativa é entre a escola Montessori de maior fidelidade e a de menor. A diferença entre o programa Montessori de maior fidelidade e o tradicional, aqui, é interpretada como pequena demais para ser considerada.
Problemas: Os alunos das escolas de maior fidelidade a Montessori avançaram 4,58 pontos ao longo de um ano. Os das escolas de menor fidelidade, 3,09 pontos. Os das escolas tradicionais, 3,53 pontos. A diferença significativa é entre a escola Montessori de maior fidelidade e a de menor. A diferença entre o programa Montessori de maior fidelidade e o tradicional, aqui, é interpretada como pequena demais para ser considerada.
Seguir ordens confusas: Os alunos das escolas de maior fidelidade a Montessori avançaram 13,72 pontos ao longo de um ano. Os das escolas de menor fidelidade, 7,34 pontos. Os das escolas tradicionais, 7,85 pontos. A diferença significativa é entre as escolas Montessori de maior fidelidade e ambos os outros programas.
Resolução de problemas de interação social: Os alunos das escolas de maior fidelidade a Montessori avançaram 0,33 ponto ao longo de um ano. Os das escolas de menor fidelidade não mudaram. Os das escolas tradicionais tiveram uma diminuição de -0,07 ponto A diferença significativa é entre a escola Montessori de maior fidelidade e o programa tradicional. A diferença entre o programa Montessori de maior fidelidade e o de menor, aqui, é interpretada como pequena demais para ser considerada.
Teorias da mente: Os alunos das escolas de maior fidelidade a Montessori avançaram 0,39 ponto ao longo de um ano. Os adas escolas de menor fidelidade, 0,26 ponto. Os das escolas tradicionais, 0,12 ponto. Nenhuma dessas diferenças é significativa.
Fica evidente pelos resultados que as escolas montessorianas de maior fidelidade ao método estabelecido por Maria Montessori oferecem ganhos superiores às crianças. Sobre a fidelidade e a adaptação, Lillard escreve:
Mais uma vez, é importante retornarmos a Montessori, e retomarmos esforços para a construção de uma escola que, sem adaptações, traga para o presente aquilo que parece ser, até aqui, o melhor programa educacional possível, aderindo ao máximo às ideias de Montessori. Vale notar que as escolas de maior fidelidade pesquisadas eram ligadas à Associação Montessori Internacional, mas os fatores determinantes enumerados por Lillard não foram retirados de cursos de formação ou de entrevistas com professores, mas de livros de Maria Montessori. O ponto de partida nos livros de Maria Montessori pode ser comum a qualquer escola e qualquer formação – em centros especializados ou dentro da escola, entre equipes e coordenações – e, partindo das ideias de Montessori, podemos ir muito longe. Temos um longo e possivelmente belo ano letivo pela frente. Vamos fazer dele um ano de ajudar a vida?
Referências:
Artigo de 2006 - Evaluating Montessori Education (Angeline Lillard):
http://www.public-montessori.org/sites/default/files/resources/Lillard_science_article_9_29_2006.pdf
Artigo de 2012 - Preschool children's development in classic Montessori, supplemented Montessori, and conventional programs ( Angeline Lillard):
http://www.faculty.virginia.edu/ASLillard/PDFs/Lillard%20(2012).pdf