Quando visitamos uma sala montessoriana, especialmente se visitamos uma sala de crianças de três a seis anos, a reação inicial é de maravilhamento (e, confesso, essa reação continua mesmo depois de anos visitando salas montessorianas). Olhamos as centenas de materiais e pensamos: "Como alguém pode inventar tudo isso?". Depois, olhamos para as crianças e pensamos: "O que é que fizeram com elas para ficarem assim?". Se perguntas como essas, e ainda outras, vieram a você quando você visitou uma sala Montessori, fiquei tranquilo, é comum. Se você ainda não visitou uma Casa de Crianças (que é como chamamos uma sala montessoriana para pequenos), pode começar vendo este e este vídeos.
Quando saímos da sala, pela primeira vez, saímos cheios de dúvidas, e um pouco sem norte. Está claro que o que acontece lá dentro é mágica, e que o professor é o feiticeiro que faz com que todas as crianças o obedeçam e permaneçam em silêncio o dia todo, trabalhando e sorrindo, falando baixo com seus colegas e descobrindo o ambiente com calma e alegria. Não desconfiamos de nosso erro maior: o protagonista neste ambiente é a criança. É ela quem explora, conhece e, sozinha, decide pelo silêncio ou pelo diálogo, pelo isolamento ou pela companhia. É ela quem escolhe quando o professor deve chegar perto e quando ele deve ficar longe e, depois de um tempo, é só ela que escolhe o que vai fazer. De alguma forma incrível isso dá certo. Mas de que forma? Como pode ser que a criança saiba o que fazer desde o começo? Nosso objetivo neste artigo não é responder a todas essas perguntas. Isso nós vamos fazer bem aos poucos. Cada uma dessas questões exige uma resposta longa e cuidadosa – mas todas, garantimos a você, têm respostas exatas e coerentes. O que nós queremos fazer aqui é dar um mapa para você começar a estudar. Ainda há pouca coisa online em língua portuguesa para quem está procurando informações sobre o método Montessori, mas aos poucos esta quantidade está crescendo. Em inglês, há mais informações do que nós conseguiríamos mapear. O que faremos aqui é oferecer a você alguns textos, vídeos e websites que podem ajudar no começo da caminhada para se compreender, não só o método Montessori, mas a criança, com toda sua natureza e toda sua realidade. Para começar a estudar Montessori, um ponto de partida bastante interessante é a vida da criadora do método. Uma página chamada Saudades e Adeus dissemina esse filme, e os links vão abaixo. Tome cuidado com os Pop-Ups: Parte 1: http://www.saudadeeadeus.com.br/filme1355.htm Parte 2: http://www.saudadeeadeus.com.br/filme1356.htm Como leitura didática, o Ministério da Educação tem um documento interessante sobre Maria Montessori e seu método, que, por estar disponível em PDF, pode ser um começo bom, especialmente para os que não estão familiarizados com os termos e a compreensão da criança que vêm de Montessori: Veja o livro em PDF aqui: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4679.pdf Outra boa introdução ao método Montessori está no livro "Pedagogias da Infância", disponível em qualquer grande livraria, ou por encomenda. Se você quiser deixar para comprar depois, o Google Books disponibilizou quase todo o livro para visualização e você pode ler o artigo por lá! Acesse o livro no Google Books neste link. O livro Pedagogia Científica, de Maria Montessori, está disponível em PDF também. Ele é o grande livro de Montessori sobre seu método - para termos uma ideia, seu nome em inglês é "The Montessori Method". É bom dar uma olhada nos links acima antes de partir para este, mas é um começo bem abrangente e fascinante para a obra de Montessori. Você pode baixar o PDF no grupo "Montessori para Mamães", do Facebook. Depois de ser aceito como membro (isso pode demorar alguns dias), vá em Arquivos e procure o livro em cinco partes. Como há pouca documentação sobre Montessori em português, abandono minha modéstia e indico também o Lar Montessori, blog em que trato do método Montessori, com foco em sua aplicação em casa. São interessantes também as aulas disponibilizadas lá e na página do YouTube. Sobre Montessori em casa, há o grupo "Montessori para Mamães", no Facebook, e um documento em PDF traduzido para o português que é bem interessante. Trata-se do "A Criança Feliz", que está disponível aqui: http://www.michaelolaf.com/JCPortuguese.pdf Para aqueles que leem inglês, as fontes de informação sobre Montessori são infinitas. Recomendamos especialmente: O blog fenomenal que trata de todos os assuntos relativos a Montessori e os desafios da sala de aula: www.MariaMontessori.com O livro "Spontaneous Activity in Education" está disponível em vários formatos e é uma excelente atualização do "The Montessori Method", ou "Pedagogia Científica" em português. Foi escrito dez anos depois de Montessori ter sua primeira sala de aula, em San Lorenzo, e é um bom livro para professores de crianças mais velhas. O título original em italiano era "Autoeducação": http://www.gutenberg.org/ebooks/24727 Finalmente, e este é um queridinho meu, porque foi com ele que eu comecei a estudar, existe o manual da Maria Montessori sobre como usar cada um de seus materiais mais famosos e fantásticos, o "Dr. Montessori's Own Handbook", e está disponível gratuitamente também, no link abaixo: http://www.gutenberg.org/ebooks/29635 Pronto! Nós, do Centro de Educação Montessori de São Paulo, esperamos que você possa começar sua caminhada tendo em mãos um mapa do que está fácil, aí, na Internet, para todos nós! E te esperamos em um de nossos cursos para conversarmos sobre o que você tiver lido ou assistido, para trocarmos informações e caminharmos juntos na construção de um mundo melhor para nossas crianças!
21 Comentários
Há muitas escolas Montessori pelo mundo - só no Brasil, há mais de uma centena de escolas e núcleos educacionais que baseiam sua prática nos princípios desenvolvidos por Maria Montessori. Ela, a médica italiana que revolucionou a educação, deixou muitos livros, dezenas de artigos, palestras, e deixou todos os materiais necessários para a educação da infância. É possível aprender mais pela obra escrita de Maria Montessori do que em anos de prática educacional, segundo o depoimento de muitos profissionais que descobriram o método depois muita experiência na escola tradicional.
Se tudo isso é verdade, e é verdade, por que vale a pena fazer um curso? Não bastaria somente a leitura atenta de Montessori e o conhecimento de seus materiais, que pode ser conseguido em tantos websites e mesmo em dois dos livros de Montessori? (Os livros, para quem quiser, são "Dr. Montessori's Own Handbook", com edição em espanhol, mas não em português, por enquanto, e "The Montessori Elementary Material", para crianças de seis a nove anos). A resposta, de alguém que vive Montessori desde os dois anos de idade e se coloca humildemente em posição de responder esta pergunta, é não. A leitura é imprescindível. Estudar Montessori à exaustão é o mínimo que se pode fazer, é o primeiro passo no imenso caminho de se tornar um professor montessoriano, mas ainda é só o primeiro passo. Viver Montessori como aluno é para mim uma lanterna, e a leitura de seus livros é como um cajado. Como manto, a observação de salas de aula me serve bem, e como mapa as conversas com professores muito antigos. Mas para realmente iniciar o caminho, o curso é a trilha. Eu nasci em 1991, e em 1993 já estava em uma sala montessoriana, em São Paulo. Fiquei nessa escola até os quatorze anos, estudando com professores que buscavam aplicar o método Montessori mesmo no Ensino Fundamental II. Nós não tínhamos aulas nem provas, e o trabalho era realmente individualizado. Vivi Montessori, portanto, até o meio da adolescência. Depois, no colégio, não fiquei nem um mês sem retornar à escola onde estudei antes e, na faculdade, decidi pesquisar o método Montessori para adolescentes, além de escrever sobre Montessori para famílias com crianças pequenas. Isso quer dizer que eu busco respirar Montessori o dia todo, todo dia. Há três anos não há nenhum dia em que eu não leia ou converse sobre Montessori, e há dois não se passa uma semana sem que eu escreva sobre o assunto. Eu achava, então, que talvez não precisasse de um curso. Eu conhecia a obra, e eu vivi a prática. O que é que faltava? Até que um belo dia, visitei uma sala montessoriana diferente daquela onde eu viv quando pequeno - tão boa quanto, mas que me permitiu um olhar de estranhamento - e eu percebi que não sabia ensinar em silêncio, não sabia sorrir só na medida certa, e não mais, e eu não sabia muitas outras coisas que estavam claras para mim, na teoria. Então, eu comecei a procurar um curso, até encontrar o do Centro de Educação Montessori de São Paulo. E agora eu respondo a pergunta que coloquei no título deste artigo: Por que fazer um curso? Bom, primeiro porque é a única forma de conviver por quinze dias seguidos com um grupo de pessoas que está buscando a mesma coisa que você. Nunca, em nenhum outro meio, há a possibilidade de tantos professores que enxerguem a criança de forma semelhante conversarem e trocarem impressões, debaterem com imenso respeito e discordarem com um carinho que beira o amor. A possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e tomar o lanche da tarde com professores montessorianos ou aspirantes a montessorianos e de chegar em casa e ainda precisar pensar, refletir, ler e escrever sobre Montessori durante uma quinzena é o tipo de imersão que torna qualquer um mais ciente de suas limitações e necessidades, mas também mais consciente de seu sonho e do imenso objetivo que deseja atingir. Estar com professores que têm mais de vinte ou trinta anos de Montessori nas costas e que conhecem uma sala como conhecem as pontas dos dedos das próprias mãos é fabuloso. Talvez fosse mesmo possível aprender tudo pelos livros e pelos websites. No entanto, em três anos pesquisando e observando salas, eu aprendi menos do que em duas semanas com professores extremamente capacitados. Há, na Índia, um coceito chamado kripa, que poderia ser traduzido como "o toque do mestre". Há histórias sobre este conceito. Em uma delas, Vivekananda, discípulo do grande Ramakrishna, um mestre hindu, dizia: "Mestre querido, eu acredito no senhor, e faço tudo o que o senhor ordena. Mas essa história de iluminação, de libertação, ela não é bem verdadeira né? Não acontece de verdade...". Em resposta, Ramakrishna, que era um homem equilibrado, mas enérgico, deu um soco na testa de Vivekananda. Vivakananda caiu sentado com as pernas cruzadas e de olhos fechados. Um instante depois abriu os olhos e disse: "Então é verdade!". Na tradição hindu, o toque do mestre poupa ao discípulo dezenas de anos de prática. Nem sempre o toque é dado, mas quando o é, dizem que uma vida inteira pode se resumir a ele. Em menor escala, é exatamente isto o que acontece com um curso de formação montessoriana. Até iniciá-lo, você lê Montessori, compreende os conceitos, visita salas, entende que tudo é fantástico. Mas é difícil acreditar que "aquilo é verdade mesmo". O curso é o toque do mestre. Ele lhe mostra não só que "Então é verdade!", mas também mostra como é verdade, de que forma torna-se verdade e porquê é verdade. Um curso poupa ao discípulo, senão dezenas, muitos anos de prática. Por isso, pela companhia de pessoas incríveis e especiais, pela dedicação intensa que se há de ter, e pelo toque do mestre, é que se deve fazer um curso Montessori. Se você ainda não começou a estudar Montessori, tudo bem. Um curso de formação é sem a menor dúvida a melhor maneira de começar. Você não ficará cansado da teoria, pois ela será misturada à prática, diluída na convivência e explicada por pessoas experientes. Se você já começou, um curso é a melhor maneira de potencializar o que você sabe e, por que não, dividir com pessoas ansiosas por conhecer mais! |
AutoresGabriel M Salomão foi aluno de uma escola montessoriana por doze anos. Hoje, realiza seu doutorado sobre o Método Montessori e difunde o método para escolas e famílias. Escreve sobre educação montessoriana aqui e no Lar Montessori. Arquivos
Fevereiro 2018
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