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Montessori como Revolução Científica

31/8/2013

2 Comentários

 
Montessori insistiu: o que fazia não era uma continuação melhorada do processo educativo em vigor. Inicialmente, não era sequer educação. O que fazia era ciência. Depois, por implicações as mais diversas e por uma preocupação social constantemente presente na personalidade de Montessori, sua Pedagogia Científica transformou-se em método, foi publicada em livro, ensinada em cursos, aplicada em escolas. Seu fundamento, entretanto, permaneceu sendo a ciência.

Além de ser ciência, explicava Montessori, o que desenvolvera era uma revolução. Segundo ela, uma vez aplicado, o método Montessori não deixaria de mudar nada. Por ser aplicado à própria constituição humana e ser uma ferramenta para o melhor desenvolvimento do humano em si, a pedagogia científica seria responsável por transformar a realidade social como a conhecemos.

Para Montessori, o que ela fez de verdade foi descobrir a criança. O método, a pedagogia em si, foi decorrência de sua descoberta. Ela descobriu que a criança tem características únicas e admiráveis, descobriu que essas características se manifestam melhor quando a criança é deixada em liberdade em um ambiente preparado, e descobriu que todas as crianças se desenvolvem de acordo com um plano de desenvolvimento relativamente semelhante a todas elas, passando por períodos específicos durante os quais determinados aprendizados se dão com maior facilidade, e funcionam melhor auxiliados por determinados meios. A aplicação desta descoberta é o Método Montessori.

Thomas Kuhn, autor de "A Estrutura das Revoluções Científicas", descreve uma revolução científica como uma descoberta ou um conjunto de descobertas que gerem problemas suficientes para uma teoria a ponto de ela não poder mais existir, e então uma nova teoria, melhor e mais completa, surgindo para dar conta destes problemas, inviabiliza as teorias anteriores, tornando-as impossíveis. Dois exemplos de revoluções científicas são:

1. A descoberta de que a Terra girava em torno do Sol: Esta descoberta explicava o movimento de todos os planetas de forma elegante, além de fazer sentido dos movimentos das estrelas, do dia e da noite, das estações do ano, e de diversos cálculos astronômicos intrincados. Uma vez compreendida e aceita, a ideia de que a Terra, e não o Sol, move-se mais, estavam inviabilizadas todas as ideias anteriores, e era necessário abandonar todas as pré-concepções em favor desta, nova.

2. A teoria da biogênese (a vida surge da vida): Esta descoberta explicou que a vida não surge do nada, não de geração espontânea, mas de alguma vida anterior. Não basta juntar roupas sujas, pedaços de comida e óleo para que surjam ratos. É necessário que haja outros ratos antes. Da mesma maneira, borboletas não surgem das flores, mas das lagartas, e assim por diante. Esta descoberta inviabilizou a geração espontânea e levou a um novo campo de investigações.

Outras descobertas, como a Gravidade, de Newton, o Inconsciente, de Freud, as Placas Tectônicas e a Evolução das Espécies, também inviabilizaram todas as teorias anteriores, deram conta de dezenas de problemas anteriormente insolúveis dos campos de investigação específicos e deram origem a novas ciências e a novas formas de raciocínio.

Para Kuhn, as revoluções científicas acontecem com muito mais facilidade no campo das ciências normais, biológicas e exatas, do que no campo das ciências sociais ou humanas. Segundo ele, no campo das sociais, incontáveis teorias surgem o tempo todo e qualquer uma pode ser adotada por qualquer um, e é possível provar que aquela é mais correta que as outras, com quase qualquer uma.

A educação, entretanto, se encontra na interface entre estas ciências, e não é, como se pensa geralmente, uma ciência exclusivamente social e humana. É também, e em larga medida, um ciência biológica, quando encarada de acordo com um método científico. Para compreender exatamente o que isso significa, vale ver as falas do Dr. Steve Huges, disponíveis online, e os artigos e livros de Angeline Lillard. Além disso, é importante tomar contato com as investigações de Steven Pinker, acerca da natureza do pensamento humano.

Anteriores a todos estes porém, e antes de diversos outros investigadores biológicos da educação, veio Montessori. Ela foi a primeira a anunciar contando com um sistema de trabalho pedagógico que comprovava sua descoberta, que a criança se desenvolve de acordo com um plano inato, e que há potencialidades na infância que só podem se desenvolver perfeitamente em determinados períodos da vida. Seu aparato prático é único na história da educação e a completude de sua teoria advém de meio século de observação e dá origem a infinitas aplicações. As descobertas de Montessori influenciaram o pensamento de Jean Piaget e estão presentes em obras tão abrangentes quanto a de Noam Chomsky, um dos maiores linguistas cognitivistas da atualidade.

Pelo fato de Montessori ser um procedimento que pode ser repetido em qualquer lugar do mundo, com crianças de qualquer classe social, e gerar os mesmos resultados em todos os contextos, é possível considerar as descobertas de Montessori como hipóteses comprovadas, e livros como Mente Absorvente e A Criança como documentos científicos válidos. Seu experimento, em linguagem científica, é replicável com sucesso.

De acordo com Kuhn, portanto, Montessori é originária de uma revolução científica: resolveu problemas anteriormente insolúveis, dando origem a uma teoria do desenvolvimento que gera uma gama nova de investigações e a um método educacional que, ao mesmo tempo, comprova a ineficácia do ensino tradicional, inviabilizando-o como abordagem cientificamente válida, e revela que a criança é capaz de se educar e, mais que isso, desenvolve-se de forma autônoma.

Sabemos que assim é, e vemos todos os dias em nossas salas de aula e no mundo os resultados desta nova abordagem científica da infância. Entretanto, em larga medida, Montessori continua sendo ignorada ou barrada entre os muros dos maiores centros de investigação científica do mundo. No Brasil e fora dele, Montessori ainda é persona-non-grata entre as paredes da academia, e suas descobertas não são levadas em consideração - pelo menos de forma explícita - quando se discute o desenvolvimento da criança e suas necessidades bio-psico-sociais.

A neurociência vem hoje comprovando não só a eficácia de Montessori, mas o acerto de suas afirmações mais contundentes. A plasticidade cerebral da criança pequena, a tendência à repetição, a habilidade e o prazer de fazer escolhas, a atividade manual e tantas outras colocações da obra montessoriana são hoje lugar comum entre os cientistas do cérebro.

Com o 143º aniversário de Maria Montessori, e com todos os que virão, é nosso trabalho - trabalho daqueles que se identificam com a abordagem de Montessori e a compreendem em sua completude - é nossa tarefa disseminar as descobertas feitas por aquela que provavelmente foi a maior investigadora da infância na história da ciência. É nosso trabalho tornar a influência de Montessori, já presente, explícita na ciência atual, e conhecida por aqueles que se ocupam do estudo da criança, na sala de aula, no laboratório e nas universidades.

É nosso trabalho tornar as descobertas de Montessori uma real revolução científica, patente e percebida. Uma revolução que resolveu problemas anteriores, inviabilizou uma forma de trabalho e uma forma de compreensão da criança, e deu origem a soluções e a novos problemas para investigação.

Acredito que a única forma de finalizar este texto, em tempo de multimídia, seja entregar a palavra a Sir Ken Robinson, que fala no vídeo abaixo sobre a necessidade de uma revolução na aprendizagem:
2 Comentários
Rafael
31/8/2013 19:21:30

Seu discurso ecoa em uníssono com o espírito da evolução. A ciência e a sociedade não esqueceram o que Montessori fez pelas crianças e e pelo futuro da humanidade; a sua atemporalidade tem lugar no tempo da transformação. "Não há nada mais poderoso do que o tempo de uma idéia que chegou" diria Marina Silva. O conhecimento sem fronteiras floresce na essência dos lares da consciência, nas escolas-família que acima de tudo respeitam a grandeza do ser humano, e de todas as suas relações. A obsolescência do atual modelo industrial de ensino torna-se insustentável em vista dos progressos tecnológicos que permitem universalizar o aprendizado adaptativo aos ritmos, interesses e aspirações de cada ser. Precisamos recuperar a liberdade para se conhecer e ser quem se realmente é, e poder assim acordar parar viver os nossos próprios sonhos. Esses desbravadores do novo mundo constroem sua grande força interior na infância. A comunidade infantil é a chave da solidificação da empatia para a coesão social das novas realidades de paz e felicidade. A criança é o amor e a esperança da humanidade.

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Claylton M. Mendes
11/9/2013 17:02:32

Que texto maravilhoso! compreendo melhor o significado do termo pedagogia cientifica. Obrigado Gabriel por apresentar as sutis difrenças entre a descoberta realizada por Montessori do que é o método montessori. De fato, ela fez uma revolução científica! façamos nós a divulgação e aplicação destas ideias; certamente ainda tão pouco compreendidas!

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    Gabriel M Salomão foi aluno de uma escola montessoriana por doze anos. Hoje, realiza seu doutorado sobre o Método Montessori e difunde o método para escolas e famílias. Escreve sobre educação montessoriana aqui e no Lar Montessori.

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